Aviso

Queridos irmaos o chat esta aberto a todos ...aqueles que sentirem necessidade pode la fazer sua prece individual...usem e fiquem a vontade pq a espritualidade presente ira acolher depende unicamente da fé de cada um.....
Muita paz e luz a todos

terça-feira, 11 de março de 2014

caridade e amor III



Diagrama


Quando integral, o amor implica a caridade (seta superior). Por sua vez, a caridade desperta e reaviva o amor (seta inferior). Dada sua dimensão voluntária, a caridade é a "porta de entrada" desse "círculo virtuoso" (seta larga).

3. A caridade em O Livro dos Espíritos.

Chama a atenção que no Livro dos Espíritos a expressão 'amor e caridade' ocorra diversas vezes. Kardec tinha estilo enxuto, só usava as palavras na exata medida de sua necessidade (um exemplo a ser imitado, aliás!). Depreende-se, pois, que caridade e amor eram por ele considerados conceitos distintos, embora interligados. Isso está de acordo com o que vimos na seção precedente.

A primeira ocorrência dessa conjunção se dá logo nos Prolegômenos, no primeiro parágrafo da transcrição da mensagem dos Espíritos acerca da natureza e objetivos da obra e, de modo mais geral do Espiritismo. Nesse parágrafo, compara-se o Espiritismo a um edifício, cujas bases estavam sendo lançadas com o Livro dos Espíritos, edifício destinado a um dia "reunir todos os homens num mesmo sentimento de amor e caridade". Recebe, pois, lugar de destaque entre os objetivos do Espiritismo a implantação do amor e da caridade universais entre os homens.

Depois, a expressão 'amor e caridade' volta a ser usada diversas vezes no capitulo 11 da terceira parte, a começar de seu título: "Da lei de justiça, de amor e de caridade". Essa lei, diz a resposta à questão 648, "é a mais importante, por ser a que faculta ao homem adiantar-se mais na vida espiritual, visto que resume todas as outras". Nesse capítulo há ainda uma seção denominada "Caridade e amor do próximo", que contém diversos esclarecimentos sobre a noção de caridade, alguns dos quais serão mencionados mais adiante.

Por fim, na eloqüente enumeração das qualidades do homem de bem que se segue à resposta à questão 918 Kardec afirma, logo no início:

O verdadeiro homem de bem é o que pratica a lei de justiça, amor e caridade, na sua maior pureza. Se interrogar a própria consciência sobre os atos que praticou, perguntará se não transgrediu essa lei, se não fez o mal , se fez todo o bem que podia, se ninguém tem motivos para dele se queixar, enfim se fez aos outros o que desejara que lhe fizessem.

Possuído do sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o bem pelo bem, sem contar com qualquer retribuição, e sacrifica seus interesses à justiça.

Deixamos, porém, ao leitor o prosseguimento da leitura desses lúcidos comentários em seu próprio exemplar do Livro dos Espíritos. Examinemos agora duas passagens em que a importância da caridade é destacada por Allan Kardec. Comecemos pelo item 8 da Conclusão. Nesse rico item Kardec compara a moral cristã à espírita, salientando a sua identidade de conteúdo e as peculiaridades de sua fundamentação. Mas esse é um outro assunto. O que nos interessa é tão-somente a frase do segundo parágrafo em que afirma que "o preceito capital" da moral do Cristo é "o da vida universal'. Notemos o qualificativo: universal, ou seja, fazer o bem a todos, indistintamente.

No capítulo "Da perfeição moral", a primeira questão (893) é sobre qual seria a mais meritória das virtudes. Depois de ressaltar o valor das demais, o Espírito acrescenta sem rebuços, no final da resposta: "A mais meritória é a que assenta na mais desinteressada caridade". Segue-se então a referida série de questões que elucidam o processo de gradual aquisição dessa caridade desinteressada.

Vejamos agora, de forma breve, algo acerca do conteúdo da seção "Caridade e amor do próximo". Ela abre com a famosa questão 886:

886. Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus?

"Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas".

Essa questão e as que a seguem são bastante relevantes, visto ser comum que a palavra 'caridade' seja empregada para designar uma noção muito mais restrita do que aquela pretendida por Jesus. Caridade é confundida com a mera ajuda material ou mesmo com a esmola (como aliás, registra o dicionário Aurélio no terceiro dos significados do termo). Mesmo antes de formular as questões específicas sobre a esmola, Kardec já ressalta, no segundo parágrafo do comentário ao item 886:

A caridade, segundo Jesus, não se restringe à esmola, abrange todas as relações em que nos achamos com os nossos semelhantes sejam eles nossos inferiores, nossos iguais, ou nossos superiores.

Notemos bem: a caridade abrange todas as nossas relações com os semelhantes, sejam quem sejam e estejam na posição que estejam. É por isso que a benevolência (desejar o bem), a indulgência (compreender as falhas alheias) e o perdão são apontados como parte essencial da caridade. Neste mundo de misérias que criamos na Terra, o auxilio material é importante; é indispensável, urgente mesmo. Não é tudo, porém. E pode ser o mais fácil, especialmente se os recursos sobejarem. Ceder de si, de seu orgulho, de sua vaidade, de sua ambição, de sua teimosia, de seu ciúme, a fim de que o bem geral se promova, isso exige renúncia. Doar amor, compreensão, respeito, calor humano... eis a caridade integral preconizada por Jesus-Cristo.

Ninguém discorreu de forma tão sublime acerca da essência da caridade quanto Paulo, no referido capítulo 13 da primeira carta aos coríntios, que agora transcrevemos em parte (vv 1 a 7 e 13):

Ainda que eu fale todas as línguas dos homens e a língua dos próprios anjos, se eu não tiver caridade, serei como o bronze que soa ou o címbalo que retine.

Ainda que tenha o dom de profecia, que penetre todos os mistérios, e tenha perfeita ciência de todas as coisas; ainda que tenha toda a fé, até o ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada serei.

E mesmo que tenha distribuído os meus bens para alimentar os pobres e entregado meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, tudo isso de nada me servirá.

A caridade é paciente; é branda e benfazeja; a caridade não é invejosa; não é temerária, nem precipitada; não se enche de orgulho.

Não é desdenhosa; não cuida de seus interesses; não se agasta, nem se azeda com coisa alguma; não suspeita mal.

Não se rejubila com a injustiça, mas se rejubila com a verdade.

Tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo sofre. [...]

Agora, estas três virtudes: a fé, a esperança e a caridade permanecem; porém a maior delas é a caridade.

Essa passagem é comentada por Kardec no item 7 do capítulo 15 do Evangelho Segundo o Espiritismo. Antes de indicar o contexto em que aparece, vejamos as linhas gerais da abordagem do tema caridade nessa importante obra.

4. A caridade em O Evangelho Segundo o Espiritismo

Estamos agora diante de uma tarefa difícil. Boa parte dos capítulos do Evangelho Segundo o Espiritismotratam, direta ou indiretamente, da caridade. Há, por exemplo, diversos capítulos dedicados ao estudo de virtudes envolvidas na caridade, como a humildade (cap. 7), a pureza de coração (cap. 8), a afabilidade e a paciência (cap. 9), a misericórdia (cap. 10), a piedade filial (cap. 14), o desprendimento dos bens terrenos (cap. 16), etc. Num plano mais geral, há os capítulos sobre o amor, "Amar o próximo como a si mesmo" (cap. 1 ) e "Amai os vossos inimigos" (cap. 12), que contêm diversas reflexões sobre a prática do amor, ou seja, sobre a caridade. Mas são sobretudo os capítulos 13 e 15 os que exploram mais a fundo a dimensão ativa do amor. O primeiro deles, "Não saiba a vossa mão esquerda o que dê a vossa mão direita", salienta o desinteresse que deve, idealmente, caracterizar todas as ações caritativas. É nesse capítulo que também se chama a atenção para a grande abrangência da noção de caridade, que vai muito além da mera ajuda material. Merecem referência especial nesse capítulo as instruções dos Espíritos, sobre a caridade material e a caridade moral, a beneficência, a piedade, os órfãos, os benefícios pagos com a ingratidão e, por fim, a beneficência exclusiva.

Na impossibilidade de comentarmos aqui todos esses tópicos, preferimos centralizar a nossa análise no outro capítulo sobre a caridade, o capítulo 15, "Fora da caridade não há salvação", pela relação direta que apresenta com as seções precedentes deste trabalho. Se o Evangelho Segundo o Espiritismo representa um dos pontos altos de toda a obra kardequiana, este certamente está entre seus capítulos de maior relevância. Qualquer tentativa de resumi-lo certamente implicará distorções e perdas. Qualquer acréscimo que se lhe queira fazer corre o risco de ser redundante. Dessa forma, não nos abalançaremos aqui nem a uma coisa nem a outra, recomendando vivamente ao leitor que o releia na íntegra, estudando e meditando cada uma de suas frases. Procuraremos tão-somente indicar a extraordinária concatenação dos tópicos, apontando sua inserção no contexto das análises que fizemos aqui.

Esse foi um dos capítulos que menos alterações sofreu da primeira edição, de 1864, intitulada Imitação do Evangelho segundo o Espiritismo, para a terceira edição, definitiva, de 1866. Com a exceção do acréscimo de um pequeno parágrafo elucidativo no final do item 7 (na numeração da terceira edição), os textos foram mantidos na íntegra. Apenas as citações do Novo Testamento, que na primeira edição se encontravam agrupadas no início, foram didaticamente distribuídas ao longo do capítulo, nos locais pertinentes. Mencionamos esse fato porque parece-nos significativo indício da perfeição do texto. Mesmo o exigente Kardec, que tanto procurava aprimorar suas obras ao longo das sucessivas edições, viu muito pouco a ser mudado aqui.

O capítulo abre com duas importantes transcrições dos evangelhos de Mateus e Lucas, ambas acerca da questão da "salvação", ou da conquista da "vida eterna", ou ainda, na interpretação espírita desse conceito, da "felicidade futura". Certamente isso liga-se ao conhecimento que Kardec tinha de que essa questão estava histórica e conceitualmente ligada à da caridade, conforme apontamos no início. Em ambos os trechos citados Jesus situa claramente a caridade como a via exclusiva da salvação. O primeiro descreve a alegoria do juízo final (Mt. 25: 31-46). Na síntese de Kardec, "ao lado da parte acessória ou figurada do quadro, há uma idéia dominante: a da felicidade reservada ao justo e a da infelicidade que espera o mau". (Note-se que na passagem o termo 'justos' é explicitamente usado para designar os que foram caridosos com o próximo necessitado.)

O segundo trecho é a famosa parábola do bom samaritano (Lc. 10: 25-37). Novamente, é a caridade pura e independente de qualquer fé (os samaritanos eram considerados heréticos pelos judeus) que é dada como a "condição única" para a salvação, visto que ela "implicitamente abrange todas as outras: a humildade, a brandura, a benevolência, a indulgência, a justiça, etc. e porque é a negação absoluta do orgulho e do egoísmo".

Vem depois a seção sobre "um mandamento maior". Conforme já observamos, esse mandamento é comum ao Velho e ao Novo Testamentos, podendo também ser identificado, em outras roupagens, nas demais religiões da humanidade. Quando perguntado a respeito, Jesus simplesmente lembrou o que já estava na Lei, o amor a Deus e o amor ao próximo. O que acrescenta é a afirmação de que o segundo mandamento "é semelhante ao primeiro" (Mt. 22: 35- 40). Kardec comenta essa importante frase, asseverando, em síntese, que "não se pode verdadeiramente amar a Deus sem amar o próximo, nem amar o próximo sem amar a Deus". Há, pois, essencialmente um só mandamento, "o mandamento maior". Recordamo-nos aqui dos versículos 20 e 21 do capítulo 4 da primeira epístola de João: "Se alguém diz: Eu amo a Deus, e aborrece a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. E dele [Deus] temos este mandamento, que quem ama a Deus ame também a seu irmão."

Mas o que faz essa referência à lei do amor num capítulo sobre a caridade? A resposta está no vínculo entre amor e caridade que indicamos na seção 3, vínculo destacado por Kardec no comentário da passagem evangélica sobre o mandamento maior. É no final desse comentário que aparece o primeiro enunciado do famoso princípio:

"FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO".

A propósito da caridade implicitamente contida no mandamento maior, vale abrir um parêntese para lembrar que, numa outra ocasião em que Jesus foi questionado sobre o assunto, apresentou o mandamento numa versão diferente: "Fazei aos homens tudo o que queirais que eles vos façam", acrescentando: "pois é nisso que consistem a lei e os profetas" (Mt. 7:12). Nessa versão, conhecida como a "regra áurea", está explícito o caráter ativo do mandamento, ou seja, a caridade. Kardec cita e comenta essa passagem no capítulo 11 do Evangelho segundo o Espiritismo, 'Amar o próximo como a si mesmo".

Ciente da velha polêmica teológica, em que se pretendeu usar palavras atribuídas a Paulo para justificar a tese da salvação pela fé, Kardec transcreveu, no item 6 desse capítulo, o trecho da primeira carta do apóstolo aos coríntios que reproduzimos no final da seção precedente. Dá ao tópico o título "Necessidade da caridade, segundo S. Paulo". Seria uma provocação? Certamente que não, pois provocações e polêmicas eram incompatíveis com seu equilíbrio, sua serenidade e seu espírito cristão. Foi, sim, a exposição firme e inequívoca de uma das conseqüências da análise espírita da moral e da religião, talvez a conseqüência de maior importância para a Humanidade.

Apesar dessa concordância da análise espírita com parte da interpretação católica da questão da caridade - a saber, a importância das obras para a salvação - , Kardec exerce a seguir a sua imparcialidade, criticando a máxima católica de que "Fora da Igreja não há salvação". Após a refutação enérgica desse princípio, estende a crítica à máxima associada, "Fora da verdade não há salvação". Ambos os princípios são mostrados não apenas carecer de fundamentação evangélica e racional, mas também serem nocivos ao bem da Humanidade, já que induzem ao sectarismo, à intolerância e ao obscurantismo.

O capítulo é encerrado com uma eloqüente comunicação mediúnica do próprio Paulo, em que o princípio-síntese "Fora da caridade não há salvação" e o papel do Espiritismo na sua implantação são comentados com palavras de grande profundidade, que não nos atreveríamos a resumir aqui. Tome, leitor amigo, seu exemplar de O Evangelho segundo o Espiritismo agora mesmo, e não adie o privilégio de poder fruir a beleza e a transcendência de um texto como esse.

Obras citadas
Bíblia. Trad. João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro, Sociedade Bíblica do Brasil, s.d.
Bíblia. Trad. da Vulgata e anotado por Matos Soares. 5ª ed., São Paulo, Pia Sociedade de São Paulo, s.d. (reimprimatur 1951).
Chave Bíblica. Brasília, Sociedade Bíblica do Brasil, 1970.
Chibeni, S. S. As paixões: Uma breve análise filosófica e espírita. Reformador, abril de 1998, p. 112-15 e 125-27. 
Descartes, R. Les Passions de l´Âme. ln: Adam, C. e Tannery, P. (eds.) Oeuvres de Descartes. Tomo XI, p. 291-497. Paris, Vrin, 1967. @(As paixões da alma. Trad. J. Guinsburg e Bento Prado Jr. ln: Descartes - Obra Escolhida, p. 295-404. São Paulo, Difusão Européia do Livro, 1973.)
Emmanuel. O Consolador (Médium Francisco Cândido Xavier.) 8ª ed., Rio de janeiro, Federação Espírita Brasileira, 1940.
--- Fonte Viva (Médium Francisco Cândido Xavier.) 9ª ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, 1956.
--- Paulo e Estêvão. (Médium Francisco Cândido Xavier.) 16ª ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, 1945.
FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 1ª ed., Rio de Janeiro, Nova Fronteira s.d.
Kardec, A. O livro dos Espíritos. Trad. de Guillon Ribeiro. 43ª ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, s.d.
----.Imitation de l´Évangile selon le Spiritisme Reprodução fotomecânica do original francês. Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, 1979.
--- O Evangelho segundo o Espiritismo. Trad. de Guillon Ribeiro. 111ª ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, s.d.
La Bible de Jérusalem. Paris, CERF, 1998.
Novo Testamento. Trad. segundo o original grego. Sociedade Bíblica Americana, Nova York, s.d.
Novo Testamento. Salmos e Provérbios. Trad. João Ferreira de Almeida. Os Gideões Internacionais, edições de 1977 e 1979.