Aviso

Queridos irmaos o chat esta aberto a todos ...aqueles que sentirem necessidade pode la fazer sua prece individual...usem e fiquem a vontade pq a espritualidade presente ira acolher depende unicamente da fé de cada um.....
Muita paz e luz a todos

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Duas orientações de Emmanuel para os problemas da Fé:


- Fé espírita no clima da família, fonte do Espiritismo no campo social. - André Luiz

5. 

VIVER PELA FÉ
Emmanuel
“Mas o justo viverá pela fé.” — Paulo. (Romanos, capítulo 1, versículo 17.)
Na epístola aos romanos, Paulo afirma que o justo viverá pela fé.
Não poucos aprendizes interpretaram erradamente a assertiva. Supuseram que viver pela fé seria executar rigorosamente as cerimônias exteriores dos cultos religiosos.
Freqüentar os templos, harmonizar-se com os sacerdotes, respeitar a simbologia sectária, indicariam a presença do homem justo. Mas nem sempre vemos o bom ritualista aliado ao bom homem. E, antes de tudo, é necessário ser criatura de Deus, em todas as circunstâncias da existência.
Paulo de Tarso queria dizer que o justo será sempre fiel, viverá de modo invariável, na verdadeira fidelidade ao Pai que está nos céus.
Os dias são ridentes e tranqüilos? tenhamos boa memória e não desdenhemos a moderação.
São escuros e tristes? confiemos em Deus, sem cuja permissão a tempestade não desabaria. Veio o abandono do mundo? o Pai jamais nos abandona. Chegaram as enfermidades, os desenganos, a ingratidão e a morte? eles são todos bons amigos, por trazerem até nós a oportunidade de sermos justos, de vivermos pela fé, segundo as disposições sagradas do Cristianismo. (Emmanuel, Caminho, Verdade e Vida, 23, FCXavier, FEB)
* * *
EM TI MESMO
“Tens fé? Tem-na em ti mesmo, diante de Deus.” — Paulo. (Romanos, capítulo 14, versículo 22.)
No mecanismo das realizações diárias, não é possível esquecer a criatura aquela expressão de confiança em si mesma, e que deve manter na esfera das obrigações que tem de cumprir à face de Deus.
Os que vivem na certeza das promessas divinas são os que guardam a fé no poder relativo que lhes foi confiado e, aumentando-o pelo próprio esforço, prosseguem nas edificações definitivas, com vistas à eternidade.
Os que, no entanto, permanecem desalentados quanto às suas possibilidades, esperando em promessas humanas, dão a idéia de fragmentos de cortiça, sem finalidade própria, ao sabor das águas, sem roteiro e sem ancoradouro.
Naturalmente, ninguém poderá viver na Terra sem confiar em alguém de seu círculo mais próximo; mas, a afeição, o laço amigo, o calor das dedicações elevadas não podem excluir a confiança em si mesmo, diante do Criador.
Na esfera de cada criatura, Deus pode tudo; não dispensa, porém, a cooperação, a vontade e a confiança do filho para realizar. Um pai que fizesse, mecanicamente, o quadro de felicidades dos seus descendentes, exterminaria, em cada um, as faculdades mais brilhantes.
Por que te manterás indeciso, se o Senhor te conferiu este ou aquele trabalho justo? Faze-o retamente, porque se Deus tem confiança em ti para alguma coisa, deves confiar em ti mesmo, diante dEle. (Emmanuel, Caminho, Verdade e Vida, 14, FCXavier, FEB)

- Em fotografia precisamos da chapa impressionável para deter a imagem, tanto quanto em eletricidade carecemos do fio sensível para a transmissão da luz. No terreno das vantagens espirituais, é imprescindível que o candidato apresente uma certa “tensão favorável”. Essa tensão decorre da fé. Certo, não nos reportamos ao fanatismo religioso ou à cegueira da ignorância, mas sim à atitude de segurança íntima, com reverência e submissão, diante das Leis Divinas, em cuja sabedoria e amor procuramos arrimo. - André Luiz

Mensagem especial aos trabalhadores de boa-vontade:
TENHAMOS FÉ
Emmanuel
”... vou preparar-vos lugar.” — Jesus. (João, capítulo 14, versículo 2.)
Sabia o Mestre que, até à construção do Reino Divino na Terra, quantos o acompanhassem viveriam na condição de desajustados, trabalhando no progresso de todas as criaturas, todavia, “sem lugar” adequado aos sublimes ideais que entesouram.
Efetivamente, o cristão leal, em toda parte, raramente recebe o respeito que lhe é devido:
Por destoar, quase sempre, da coletividade, ainda não completamente cristianizada, sofre a descaridosa opinião de muitos.
Se exercita a humildade, é tido à conta de covarde.
Se adota a vida simples, é acusado pelo delito de relaxamento.
Se busca ser bondoso, é categorizado por tolo.
Se administra dignamente, é julgado orgulhoso.
Se obedece quanto é justo, é considerado servil.
Se usa a tolerância, é visto por incompetente.
Se mobiliza a energia, é conhecido por cruel.
Se trabalha, devotado, é interpretado por vaidoso.
Se procura melhorar-se, assumindo responsabilidades no esforço intensivo das boas obras ou das preleções consoladoras, é indicado por fingido.
Se tenta ajudar ao próximo, abeirando-se da multidão, com os seus gestos de bondade espontânea, muitas vezes é tachado de personalista e oportunista, atento aos interesses próprios.
Apesar de semelhantes conflitos, porém, prossigamos agindo e servindo, em nome do Senhor.
Reconhecendo que o domicílio de seus seguidores não se ergue sobre o chão do mundo, prometeu Jesus que lhes prepararia lugar na vida mais alta.
Continuemos, pois, trabalhando com duplicado fervor na sementeira do bem, à maneira de servidores provisoriamente distanciados do verdadeiro lar.
“Há muitas moradas na Casa do Pai.”
E o Cristo segue servindo, adiante de nós.
Tenhamos fé.
(Emmanuel, Fonte Viva, 44, FCXavier, FEB)

TUA FÉ
Emmanuel
“E ele lhe disse: Tem bom ânimo, filha, a tua fé te salvou; vai em paz.” — (LUCAS, CAPÍTULO 8, VERSÍCULO 48.)
É importante observar que o Divino Mestre, após o benefício dispensado, sempre se reporta ao prodígio da fé, patrimônio sublime daqueles que O procuram.
Diversas vezes, ouvimo-lo na expressiva afirmação: — “A tua fé te salvou.” Doentes do corpo e da alma, depois do alívio ou da cura, escutam a frase generosa. É que a vontade e a confiança do homem são poderosos fatores no desenvolvimento e iluminação da vida.
O navegante sem rumo e que em nada confia, somente poderá atingir algum porto em virtude do jogo das forças sobre as quais se equilibra, desconhecendo, porém, de maneira absoluta, o que lhe possa ocorrer.
O enfermo, descrente da ação de todos os remédios, é o primeiro a trabalhar contra a própria segurança. O homem que se mostra desalentado em todas as coisas, não deverá aguardar a cooperação útil de coisa alguma.
As almas vazias embalde reclamam o quinhão de felicidade que o mundo lhes deve. As negações, em que perambulam, transformam-nas, perante a vida, em zonas de amortecimento, quais isoladores em eletricidade. Passa corrente vitalizante, mas permanecem insensíveis.
Nos empreendimentos e necessidades de teu caminho, não te isoles nas posições negativas.
Jesus pode tudo, teus amigos verdadeiros farão o possível por ti; contudo, nem o Mestre e nem os companheiros realizarão em sentido integral a felicidade que ambicionas, sem o concurso de tua fé, porque também tu és filho do mesmo Deus, com as mesmas possibilidades de elevação. (Emmanuel, Pão Nosso, 113, FCXavier, FEB)

- A provação é o metro de avaliação de nossa própria fé. - André Luiz

Epílogo encantador - Breve estorinha de Meimei sobre a fé:
FÉ E PERSEVERANÇA
Meimei
Três rapazes suspiravam por encontrar o Senhor, a fim de fazer-lhe rogativas.
Depois de muitas orações, eis que, certa vez, no
campo em que trabalhavam, apareceu-lhes o carro do Senhor, guiado pelos anjos.
Radiante de luz, o Divino Amigo desceu da carruagem e pôs-se a ouvi-los.
Os três ajoelharam-se em lágrimas de júbilo e o primeiro implorou a Jesus o favor da riqueza. O Mestre, bondoso, determinou que um dos anjos lhe entregasse enorme tesouro em moedas, O segundo suplicou a beleza perfeita e o Celeste Benfeitor mandou que um dos servidores lhe desse um milagroso ungüento a fim de que a formosura lhe brilhasse no rosto. O terceiro exclamou com fé:
— Senhor, eu não sei escolher... Dá-me o que for justo, segundo a tua vontade.
O Mestre sorriu e recomendou a um dos seus anjos lhe entregasse uma grande bolsa.
Em seguida, abençoou-os e partiu...
O moço que recebera a bolsa abriu-a, ansioso, mas, oh! desencanto!... Ela continha simplesmente uma enorme pedra.
Os companheiros riram-se dele, supondo-o ludibriado, mas o jovem afirmou a sua fé no Senhor, levou consigo a pedra e começou a desbastá-la, procurando, procurando...
Depois de algum tempo, chegou ao coração do bloco endurecido e encontrou aí um soberbo diamante. Com ele adquiriu grande fortuna e com a fortuna construiu uma casa onde os doentes pudessem encontrar refúgio e alivio, em nome do Senhor.
Vivia feliz, cuidando de seu trabalho, quando, um dia, dois enfermos bateram à porta. Não teve dificuldade em reconhecê-los. Eram os dois antigos colegas de oração, que se haviam enganado com o ouro e com a beleza, adquirindo apenas doença e cansaço, miséria e desilusão.
Abraçaram-se, chorando de alegria e, nesse instante, o Divino Mestre apareceu entre eles e falou:
— Bem-aventurados todos aqueles que sabem aproveitar as pedras da vida, porque a fé e a perseverança no bem são os dois grandes alicerces do Reino de Deus. (Meimei, do livro "Pai Nosso", 14, FCXavier, FEB)
"Conserve a própria fé por tal modo que você não possa se afligir excessivamente em nenhuma dificuldade." -  André Luiz

- A fé nunca será produto para mercado humano. - André Luiz

CREDO ESPÍRITA
Preâmbulo
Os males da Humanidade provêm da imperfeição dos homens; pelos seus vícios é que eles se prejudicam uns aos outros. Enquanto forem viciosos, serão infelizes, porque a luta dos interesses gerará constantes misérias.
Sem dúvida, boas leis contribuem para melhorar o estado social, mas são impotentes para tornar venturosa a Humanidade, porque mais não fazem do que comprimir as paixões ruins, sem as eliminar. Em segundo lugar, porque são mais repressivas do que moralizadoras e só reprimem os mais salientes atos maus, sem lhes destruir as causas. Aliás, a bondade das leis guarda relação com a bondade dos homens; enquanto estes se conservarem dominados pelo orgulho e pelo egoísmo, farão leis em benefício de suas ambições pessoais. A lei civil apenas modifica a superfície; somente a lei moral pode penetrar o foro íntimo da consciência e reformá-lo.
Reconhecido, pois, que o atrito oriundo do contacto dos vícios é que faz infortunados os homens, o único remédio para seus males está em se melhorarem eles moralmente. Uma vez que nas imperfeições se encontra a causa dos males, a felicidade aumentará na proporção em que as imperfeições diminuírem.
Por melhor que seja uma instituição social, sendo maus os homens, eles a falsearão e lhe desfigurarão o espírito para a explorarem em proveito próprio. Quando os homens forem bons, organizarão boas instituições,
que serão duráveis, porque todos terão interesse em conservá-las.
A questão social não tem, pois, por ponto de partida a forma de tal ou qual instituição; ela está toda no melhoramento moral dos indivíduos e das massas. Aí é que se acha o princípio, a verdadeira chave da felicidade do gênero humano, porque então os homens não mais cogitarão de se prejudicarem reciprocamente. Não basta se cubra de verniz a corrupção, é indispensável extirpar a corrupção.
O princípio do melhoramento está na natureza das crenças, porque estas constituem o móvel das ações e modificam os sentimentos. Também está nas idéias inculcadas desde a infância e que se identificam com o Espírito; está ainda nas idéias que o desenvolvimento ulterior da inteligência e da razão podem fortalecer, nunca destruir. É pela educação, mais do que pela instrução, que se transformará a Humanidade.
O homem que se esforça seriamente por se melhorar assegura para si a felicidade, já nesta vida. Além da satisfação que proporciona à sua consciência, ele se isenta das misérias materiais e morais, que são a conseqüência inevitável das suas imperfeições. Terá calma, porque as vicissitudes só de leve o roçarão. Gozará de saúde, porque não estragará o seu corpo com os excessos. Será rico, porque rico é sempre todo aquele que sabe contentar-se com o necessário. Terá a paz do espírito, porque não experimentará necessidades fictícias, nem será atormentado pela sede das honrarias e do supérfluo, pela febre da ambição, da inveja e do ciúme. Indulgente para com as imperfeições alheias, menos sofrimentos lhe causarão elas, que, antes, lhe inspirarão piedade e não cólera. Evitando tudo o que possa prejudicar o seu próximo, por palavras e por atos, procurando, ao invés, fazer tudo o que possa ser útil e agradável aos outros, ninguém sofrerá com o seu contacto.
Garante a sua felicidade na vida futura, porque, quanto mais ele se depurar, tanto mais se elevará na hierarquia dos seres inteligentes e cedo abandonará esta terra de provações, por mundos superiores, porquanto o mal que haja reparado nesta vida não terá que o reparar em outras existências; porquanto, na erraticidade, só encontrará seres amigos e simpáticos e não será atormentado pela visão incessante dos que contra ele tenham motivos de queixa.
Vivam juntos alguns homens, animados desses sentimentos, e serão tão felizes quanto o comporta a nossa terra. Ganhem assim, passo a passo, esses sentimentos todo um povo, toda uma raça, toda a Humanidade e o nosso globo tomará lugar entre os mundos ditosos.
Será isto uma utopia, uma quimera? Sê-lo-á para aquele que não crê no progresso da alma; não o será, para aquele que crê na sua perfectibilidade indefinida.
O progresso geral é a resultante de todos os progressos individuais; mas, o progresso individual não consiste apenas no desenvolvimento da inteligência, na aquisição de alguns conhecimentos. Nisso mais não há do que uma parte do progresso, que não conduz necessariamente ao bem, pois que há homens que usam mal do seu saber. O progresso consiste, sobretudo, no melhoramento moral, na depuração do Espírito, na extirpação dos maus germens que em nós existem. Esse o verdadeiro progresso, o único que pode garantir a felicidade ao gênero humano, por ser o oposto mesmo do mal. Muito mal pode fazer o homem de inteligência mais cultivada; aquele que se houver adiantado moralmente só o bem fará. É, pois, do interesse de todos o progresso moral da Humanidade.
Mas, que importam a melhora e a felicidade das gerações futuras, àquele que acredita que tudo se acaba com a vida? Que interesse tem ele em se aperfeiçoar, em se constranger, em domar suas paixões inferiores, em se privar do que quer que seja a benefício de outrem? Nenhum. A própria lógica lhe diz que seu interesse está em gozar depressa e por todos os meios possíveis, visto que amanhã, talvez, ele nada mais será.
A doutrina do "nada" é a paralisia do progresso humano, porque circunscreve as vistas do homem ao imperceptível ponto da presente existência; porque lhe restringe as idéias e as concentra forçosamente na vida material. Com essa doutrina, o homem nada sendo antes, nem depois, cessando com a vida todas as relações sociais, a solidariedade é vã palavra, a fraternidade uma teoria sem base, a abnegação em favor de outrem mero embuste, o egoísmo, com a sua máxima — cada um por si, um direito natural; a vingança, um ato de razão; a felicidade, privilégio do mais forte e dos mais astuciosos; o suicídio, o fim lógico daquele que, baldo de recursos e de expedientes, nada mais espera e não pode safar-se do tremedal
1Uma sociedade fundada sobre o "nadismo" traria em si o gérmen de sua próxima dissolução.
Outros, porém, são os sentimentos daquele que tem fé no futuro; que sabe que nada do que adquiriu em saber e em moralidade lhe estará perdido; que o trabalho de hoje dará seus frutos amanhã; que ele próprio fará parte das gerações porvindouras, mais adiantadas e mais ditosas. Sabe que, trabalhando para os outros, trabalha para si mesmo. Sua visão não se detém na Terra, abrange a infinidade dos mundos que lhe servirão um dia de morada; entrevê o glorioso lugar que lhe caberá, como o de todos os seres que alcançam a perfeição.
Com a fé na vida futura, dilata-se-lhe o círculo das idéias; o porvir lhe pertence; o progresso pessoal tem um fim, uma utilidade real. Da continuidade das relações entre os homens nasce a solidariedade; a fraternidade se funda numa lei da Natureza e no interesse de todos.
A crença na vida futura é, pois, elemento de progresso, porque estimula o Espírito; somente ela pode dar ao homem coragem nas suas provas, porque lhe fornece a razão de ser dessas provas, perseverança na
luta contra o mal, porque lhe assina um objetivo. A formar essa crença no espírito das massas é, portanto, o em que devem aplicar-se os que a possuem.
Entretanto, ela é inata no homem. Todas as religiões a proclamam. Por que, então, não deu, até hoje, os resultados que se deviam esperar? É que, em geral, a apresentam em condições que a razão não pode aceitar. Conforme a pintam, ela rompe todas as relações com o presente; desde que tenha deixado a Terra, a criatura se torna estranha à Humanidade: nenhuma solidariedade existe entre os mortos e os vivos; o progresso é puramente individual; cada um, trabalhando para o futuro, unicamente para si trabalha, só em si pensa e isso mesmo para uma finalidade vaga, que nada tem de definido, nada de positivo, sobre que o pensamento se firme com segurança; enfim, porque é mais uma esperança que uma certeza material. Daí resulta, para uns, a indiferença, para outros, uma exaltação mística que, isolando da Terra o homem, é essencialmente prejudicial ao progresso real da Humanidade, porquanto negligencia os cuidados que reclama o progresso material, para o qual a Natureza lhe impõe o dever de contribuir.
Todavia, por muito incompletos que sejam os resultados, não deixam de ser efetivos. Quantos homens não se sentiram encorajados e sustentados na senda do bem por essa vaga esperança! Quantos não se detiveram no declive do mal, pelo temor de comprometer o seu futuro! Quantas virtudes nobres essa crença não desenvolveu! Não desdenhemos as crenças do passado, por imperfeitas que sejam, quando conduzem ao bem: elas estavam em correspondência com o grau de adiantamento da Humanidade.
Mas, tendo progredido, a Humanidade reclama crenças em harmonia com as novas idéias. Se os elementos da fé permanecem estacionários e ficam distanciados pelo espírito, perdem toda influência; e o bem que hajam produzido, em certo tempo, não pode prosseguir, porque
aqueles elementos já não se acham à altura das circunstâncias.
Para que a doutrina da vida futura doravante dê os frutos que se devem esperar, é preciso, antes de tudo, que satisfaça completamente à razão; que corresponda à idéia que se faz da sabedoria, da justiça e da bondade de Deus; que não possa ser desmentida de modo algum pela Ciência. É preciso que a vida futura não deixe no espírito nem dúvida, nem incerteza; que seja tão positiva quanto a vida presente, que é a sua continuação, do mesmo modo que o amanhã é a continuação do dia anterior. É necessário seja vista, compreendida e, por assim dizer, tocada com o dedo. Faz-se mister, enfim, que seja evidente a solidariedade entre o passado, o presente e o futuro, através das diversas existências.
Tal a idéia que da vida futura apresenta o Espiritismo, O que a essa idéia dá força é que ela absolutamente não é uma concepção humana com o mérito apenas de ser mais racional, sem contudo oferecer mais certeza do que as outras. Ë o resultado de estudos feitos sobre os testemunhos oferecidos por Espíritos de diferentes categorias, nas suas manifestações, que permitiram se explorasse a vida extra corpórea em todas as suas fases, desde o extremo superior ao extremo inferior da escala dos seres. As peripécias da vida futura, por conseguinte, já não constituem uma simples teoria, ou uma hipótese mais ou menos provável: decorrem de observações. São os habitantes do mundo invisível que vêm, eles próprios, descrever os seus respectivos estados e há situações que a mais fecunda imaginação não conceberia, se não fossem patenteadas aos olhos do observador.
Ministrando a prova material da existência e da imortalidade da alma, iniciando-nos em os mistérios do nascimento, da morte, da vida futura, da vida universal, tornando-nos palpáveis as inevitáveis conseqüências do bem e do mal, a Doutrina Espírita, melhor do que qualquer outra, põe em relevo a necessidade da melhoria individual. Por meio dela, sabe o homem donde vem, para onde vai, por que está na Terra; o bem tem um objetivo, uma utilidade prática. Ela não se limita a preparar o homem para o futuro, forma-o também para o presente, para a sociedade. Melhorando-se moralmente, os homens prepararão na Terra o reinado da paz e da fraternidade.
A Doutrina Espírita é assim o mais poderoso elemento de moralização, por se dirigir simultaneamente ao coração, à inteligência e ao interesse pessoal bem compreendido.
Por sua mesma essência, o Espiritismo participa de todos os ramos dos conhecimentos físicos, metafísicos e morais. São inúmeras as questões que ele envolve, as quais, no entanto, podem resumir-se nos pontos seguintes que, considerados verdades inconcussas, formam o programa das crenças espíritas. (Obras Póstumas, Allan Kardec, 99 - CREDO ESPÍRITA - Preâmbulo.)
(1) Lama, torpeza, degradação moral (Nota do Instituto André Luiz)

A FÉ TRANSPORTA MONTANHAS,

- Não apague o archote da fé em seus dias claros, para que não falte luz a você nos dias escuros. - André Luiz

A FÉ TRANSPORTA MONTANHAS, Capítulo XIX
O Evangelho Segundo o Espiritismo
Poder da fé. - A fé religiosa. Condição da fé inabalável. - Parábola da figueira seca. - Instruções dos Espíritos:
A fé: mãe da esperança e da caridade. - A fé humana e a divina. Poder da fé
1. Quando ele veio ao encontro do povo, um homem se lhe aproximou e, lançando-se de joelhos a seus pés, disse: Senhor, tem piedade do meu filho, que é lunático e sofre muito, pois cai muitas vezes no fogo e muitas vezes na água. Apresentei-o aos teus discípulos, mas eles não o puderam curar.
Jesus respondeu. dizendo: Ó raça incrédula e depravada, até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei? Trazei-me aqui esse menino. - E tendo Jesus ameaçado o demônio, este saiu do menino, que no mesmo instante ficou são. Os discípulos vieram então ter com Jesus em particular e lhe perguntaram: Por que não pudemos nós outros expulsar esse demônio? - Respondeu-lhes Jesus: Por causa da vossa incredulidade. Pois em verdade vos digo, se tivésseis a fé do tamanho de um grão de mostarda, diríeis a esta montanha: Transporta-te daí para ali e ela se transportaria, e nada vos seria impossível. (S. MATEUS, cap. XVII, vs. 14 a 20.) 2.
No sentido próprio, é certo que a confiança nas suas próprias forças toma o homem capaz de executar coisas materiais, que não consegue fazer quem duvida de si. Aqui porém unicamente no sentido moral se devem entender essas palavras. As montanhas que a fé desloca são as dificuldades, as resistências, a má-vontade, em suma, com que se depara da parte dos homens, ainda quando se trate das melhores coisas. Os preconceitos da rotina, o interesse material, o egoísmo, a cegueira do fanatismo e as paixões orgulhosas são outras tantas montanhas que barram o caminho a quem trabalha pelo progresso da Humanidade. A fé robusta dá a perseverança, a energia e os recursos que fazem se vençam os obstáculos, assim nas pequenas coisas, que nas grandes. Da fé vacilante resultam a incerteza e a hesitação de que se aproveitam os adversários que se têm de combater; essa fé não procura os meios de vencer, porque não acredita que possa vencer.
3. Noutra acepção, entende-se como fé a confiança que se tem na realização de uma coisa, a certeza de atingir determinado fim. Ela dá uma espécie de lucidez que permite se veja, em pensamento, a meta que se quer alcançar e os meios de chegar lá, de sorte que aquele que a possui caminha, por assim dizer, com absoluta segurança. Num como noutro caso, pode ela dar
lugar a que se executem grandes coisas. A fé sincera e verdadeira é sempre calma; faculta a paciência que sabe esperar, porque, tendo seu ponto de apoio na inteligência e na compreensão das coisas, tem a certeza de chegar ao objetivo visado. A fé vacilante sente a sua própria fraqueza; quando a estimula o interesse, toma-se furibunda e julga suprir, com a violência, a força que lhe falece. A calma na luta é sempre um sinal de força e de confiança; a violência, ao contrário, denota fraqueza e dúvida de si mesmo.
4. Cumpre não confundir a fé com a presunção. A verdadeira fé se conjuga à humildade; aquele que a possui deposita mais confiança em Deus do que em si próprio, por saber que, simples instrumento da vontade divina, nada pode sem Deus. Por essa razão é que os bons Espíritos lhe vêm em auxílio. A presunção é menos fé do que orgulho, e o orgulho é sempre castigado, cedo ou tarde, pela decepção e pelos malogros que lhe são infligidos.
5. O poder da fé se demonstra, de modo direto e especial, na ação magnética; por seu intermédio, o homem atua sobre o fluido, agente universal, modifica-lhe as qualidades e lhe dá uma impulsão por assim dizer irresistível. Daí decorre que aquele que a um grande poder fluídico normal junta ardente fé, pode, só pela força da sua vontade dirigida para o bem, operar esses singulares fenômenos de cura e outros, tidos antigamente por prodígios, mas que não passam de efeito de uma lei natural. Tal o motivo por que Jesus disse a seus apóstolos: se não o curastes, foi porque não tínheis fé.
A fé religiosa. Condição da fé inabalável:
6. Do ponto de vista religioso, a fé consiste na crença em dogmas especiais, que constituem as diferentes religiões. Todas elas têm seus artigos de fé. Sob esse aspecto, pode a fé ser raciocinada ou cega. Nada examinando, a fé cega aceita, sem verificação, assim o verdadeiro como o falso, e a cada passo se choca com a evidência e a razão. Levada ao excesso, produz o fanatismo. Em assentando no erro, cedo ou tarde desmorona; somente a fé que se baseia na verdade garante o futuro, porque nada tem a temer do progresso das luzes, dado que o que é verdadeiro na obscuridade, também o é à luz meridiana. Cada religião pretende ter a posse exclusiva da verdade; preconizar alguém a fé cega sobre um ponto de crença é confessar-se impotente para demonstrar que está com a razão.
7. Diz-se vulgarmente que a fé não se prescreve, donde resulta alegar muita gente que não lhe cabe a culpa de não ter fé. Sem dúvida, a fé não se prescreve, nem, o que ainda é mais certo, se impõe. Não; ela se adquire e ninguém há que esteja impedido de possuí-la, mesmo entre os mais refratários. Falamos das verdades espirituais básicas e não de tal ou qual crença particular. Não é à fé que compete procurá-los; a eles é que cumpre ir-lhe, ao encontro e, se a buscarem sinceramente, não deixarão de achá-la. Tende, pois, como certo que os que dizem: "Nada de melhor desejamos do que crer, mas não o podemos", apenas de lábios o dizem e não do íntimo, porquanto, ao dizerem isso, tapam os ouvidos. As provas, no entanto, chovem-lhes ao derredor; por que fogem de observá-las? Da parte de uns, há descaso; da de outros, o temor de serem forçados a mudar de hábitos; da parte da maioria, há o orgulho, negando-se a reconhecer a existência de uma força superior, porque teria de curvar-se diante dela. Em certas pessoas, a fé parece de algum modo inata; uma centelha basta para desenvolvê-la. Essa facilidade de assimilar as verdades espirituais é sinal evidente de anterior progresso. Em outras pessoas, ao contrário, elas dificilmente penetram, sinal não menos evidente de naturezas retardatárias. As primeiras já creram e compreenderam; trazem, ao renascerem, a intuição do que souberam: estão com a educação feita; as segundas tudo têm de aprender: estão com a educação por fazer. Ela, entretanto, se fará e, se não ficar concluída nesta existência, ficará em outra. A resistência do incrédulo, devemos convir, muitas vezes provém menos dele do que da maneira por que lhe apresentam as coisas. A fé necessita de uma base, base que é a inteligência perfeita daquilo em que se deve crer. E, para crer, não basta ver; é preciso, sobretudo, compreender. A fé cega já não é deste século (1), tanto assim que precisamente o dogma da fé cega é que produz hoje o maior número dos incrédulos, porque ela pretende impor-se, exigindo a abdicação de uma das mais preciosas prerrogativas do homem: o raciocínio e o livre-arbítrio. É principalmente contra essa fé que se levanta o incrédulo, e dela é que se pode, com verdade, dizer que não se prescreve. Não admitindo provas, ela deixa no espírito alguma coisa de vago, que dá nascimento à dúvida. A fé raciocinada, por se apoiar nos fatos e na lógica, nenhuma obscuridade deixa. A criatura então crê, porque tem certeza, e ninguém tem certeza senão porque compreendeu. Eis por que não se dobra. Fé inabalável só o é a que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da Humanidade. A esse resultado conduz o Espiritismo, pelo que triunfa da incredulidade, sempre que não encontra oposição sistemática e interessada.
Parábola da figueira seca:
8. Quando saiam de Betânia, ele teve fome; e, vendo ao longe uma figueira, para ela encaminhou-se, a ver se acharia alguma coisa; tendo-se, porém, aproximado, só achou folhas, visto não ser tempo de figos. Então, disse Jesus à figueira: Que ninguém coma de ti fruto algum, o que seus discípulos ouviram. - No dia seguinte, ao passarem pela figueira, viram que secara até á raiz. - Pedro, lembrando-se do que dissera Jesus, disse: Mestre, olha como secou a figueira que tu amaldiçoaste. - Jesus, tomando a palavra, lhes disse: Tende fé em Deus. - Digo-vos, em verdade, que aquele que disser a esta montanha: Tira-te daí e lança-te ao mar, mas sem hesitar no seu coração, crente, ao contrário, firmemente, de que tudo o que houver dito acontecerá, verá que, com efeito, acontece. (S. MARCOS, cap. Xl, vs. 12 a 14 e 20 a 23.)
9. A figueira que secou é o símbolo dos que apenas aparentam propensão para o bem, mas que, em realidade, nada de bom produzem; dos oradores que mais brilho têm do que solidez, cujas palavras trazem superficial verniz, de sorte que agradam aos ouvidos, sem que, entretanto, revelem, quando perscrutadas, algo de substancial para os corações. E de perguntar-se que proveito tiraram delas os que as escutaram. Simboliza também todos aqueles que, tendo meios de ser úteis, não o são; todas as utopias, todos os sistemas ocos, todas as doutrinas carentes de base sólida. O que as mais das vezes falta é a verdadeira fé, a fé produtiva, a fé que abala as fibras do coração, a fé, numa palavra. que transporta montanhas. São árvores cobertas de folhas porém, baldas de frutos. Por isso é que Jesus as condena à esterilidade, porquanto dia virá em que se acharão secas até à raiz. Quer dizer que todos os sistemas, todas as doutrinas que nenhum bem para a Humanidade houverem produzido, cairão reduzidas a nada; que todos os homens deliberadamente inúteis, por não terem posto em ação os recursos que traziam consigo, serão tratados como a figueira que secou.
10. Os médiuns são os intérpretes dos Espíritos; suprem, nestes últimos, a falta de órgãos materiais pelos quais transmitam suas instruções. Daí vem o serem dotados de faculdades para esse efeito. Nos tempos atuais, de renovação social, cabe-lhes uma missão especialíssima; são árvores destinadas a fornecer alimento espiritual a seus irmãos; multiplicam-se em número, para que abunde o alimento; há-os por toda a parte, em todos os países em todas as classes da sociedade, entre os ricos e os pobres, entre os grandes e os pequenos, a fim de que em nenhum ponto faltem e a fim de ficar demonstrado aos homens que todos são chamados. Se porém, eles desviam do objetivo providencial a preciosa faculdade que lhes foi concedida, se a empregam em coisas fúteis ou prejudiciais, se a põem a serviço dos interesses mundanos, se em vez de frutos sazonados dão maus frutos se se recusam a utilizá-la em beneficio dos outros, se nenhum proveito tiram dela para si mesmos, melhorando-se, são quais a figueira estéril. Deus lhes retirará um dom que se tornou inútil neles: a semente que não sabem fazer que frutifique, e consentirá que se tornem presas dos Espíritos maus.
INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS -  A fé: mãe da esperança e da caridade:
11. Para ser proveitosa, a fé tem de ser ativa; não deve entorpecer-se. Mãe de todas as virtudes que conduzem a Deus, cumpre-lhe velar atentamente pelo desenvolvimento dos filhos que gerou. A esperança e a caridade são corolários da fé e formam com esta uma trindade inseparável. Não é a fé que faculta a esperança na realização das promessas do Senhor? Se não tiverdes fé, que esperareis? Não é a fé que dá o amor? Se não tendes fé, qual será o vosso reconhecimento e, portanto, o vosso amor? Inspiração divina, a fé desperta todos os instintos nobres que encaminham o homem para o bem. É a base da regeneração. Preciso é, pois, que essa base seja forte e durável, porquanto, se a mais ligeira dúvida a abalar que será do edifício que sobre ela construirdes? Levantai, conseguintemente, esse edifício sobre alicerces inamovíveis. Seja mais forte a vossa fé do que os sofismas e as zombarias dos incrédulos, visto que a fé que não afronta o ridículo dos homens não é fé verdadeira. A fé sincera é empolgante e contagiosa; comunica-se aos que não na tinham, ou, mesmo, não desejariam tê-la. Encontra palavras persuasivas que vão à alma. ao passo que a fé aparente usa de palavras sonoras que deixam frio e indiferente quem as escuta. Pregai pelo exemplo da vossa fé, para a incutirdes nos homens. Pregai pelo exemplo das vossas obras para lhes demonstrardes o merecimento da fé. Pregai pela vossa esperança firme, para lhes dardes a ver a confiança que fortifica e põe a criatura em condições de enfrentar todas as vicissitudes da vida.
Tende, pois, a fé, com o que ela contém de belo e de bom, com a sua pureza, com a sua racionalidade. Não admitais a fé sem comprovação, cega filha da cegueira. Amai a Deus, mas sabendo porque o amais; crede nas suas promessas, mas sabendo porque acreditais nelas; segui os nossos conselhos, mas compenetrados do um que vos apontamos e dos meios que vos trazemos para o atingirdes. Crede e esperai sem desfalecimento: os milagres são obras da fé. - José, Espírito protetor. (Bordéus, 1862.)
A fé humana e a divina:
12. No homem, a fé é o sentimento inato de seus destinos futuros; é a consciência que ele tem das faculdades imensas depositadas em gérmen no seu íntimo, a princípio em estado latente, e que lhe cumpre fazer que desabrochem e cresçam pela ação da sua vontade. Até ao presente, a fé não foi compreendida senão pelo lado religioso, porque o Cristo a exalçou como poderosa alavanca e porque o têm considerado apenas como chefe de uma religião. Entretanto, o Cristo, que operou milagres materiais, mostrou, por esses milagres mesmos, o que pode o homem, quando tem fé, isto é, a vontade de querer e a certeza de que essa vontade pode obter satisfação. Também os apóstolos não operaram milagres, seguindo-lhe o exemplo? Ora, que eram esses milagres, senão efeitos naturais, cujas causas os homens de então desconheciam, mas que, hoje, em grande parte se explicam e que pelo estudo do Espiritismo e do Magnetismo se tornarão completamente compreensíveis? A fé é humana ou divina, conforme o homem aplica suas faculdades à satisfação das necessidades terrenas, ou das suas aspirações
celestiais e futuras. O homem de gênio, que se lança à realização de algum grande empreendimento, triunfa, se tem fé, porque sente em si que pode e há de chegar ao fim colimado, certeza que lhe faculta imensa força. O homem de bem que, crente em seu futuro celeste, deseja encher de belas e nobres ações a sua existência, haure na sua fé, na certeza da felicidade que o espera, a força necessária, e ainda aí se operam milagres de caridade, de devotamento e de abnegação. Enfim, com a fé, não há maus pendures que se não chegue a vencer. O Magnetismo é uma das maiores provas do poder da fé posta em ação. É pela fé que ele cura e produz esses fenômenos singulares, qualificados outrora de milagres. Repito: a fé é humana e divina. Se todos os encarnados se achassem bem persuadidos da força que em si trazem, e se quisessem pôr a vontade a serviço dessa força, seriam capazes de realizar o a que, até hoje, eles chamaram prodígios e que, no entanto, não passa de um desenvolvimento das faculdades humanas. - Um Espírito Protetor. Paris, l863. (A FÉ TRANSPORTA MONTANHAS, Capítulo XIX - O Evangelho Segundo o Espiritismo.)
(1) Kardec escreveu essa palavras no século XIX. Hoje, o espírito humano tornou-se ainda mais exigente: a fé cega está abandonada; reina descrença nas Igrejas que a impunham. As massas humanas vivem sem ideal, sem esperança em outra vida e tentam transformar o mundo pela violência. As lutas econômicas engendraram as mais exóticas doutrinas de ação e reação. Duas guerras mundiais assolaram o planeta, numa ânsia furiosa de predomínio econômico. Toda a esperança da Humanidade hoje se apóia no Espiritismo, na restauração do Cristianismo, baseada em fatos que demonstram os princípios básicos da Doutrina cristã: eternidade da vida, responsabilidade ilimitada de pensamentos, palavras e atos. Sem a Terceira Revelação o mundo estaria irremediavelmente perdido pelo choque das mais desencontradas ideologias materialistas e violentistas. - A Editora da FEB, em 1948

A fé viva não é patrimônio transferível. É conquista pessoal. - André Luiz






FÉ, ESPERANÇA, CONSOLAÇÕES
Leon Denis
A fé é a confiança da criatura em seus destinos, é o sentimento que a eleva à infinita Potestade, é a certeza de estar no caminho que vai ter à verdade. A fé cega é como farol cujo vermelho clarão não pode traspassar o nevoeiro; a fé esclarecida é foco elétrico que ilumina com brilhante luz a estrada a percorrer.
Ninguém adquire essa fé sem ter passado pelas tribulações da dúvida, sem ter padecido as angústias que embaraçam o caminho dos investigadores. Muitos param em esmorecida indecisão e flutuam longo tempo entre opostas correntezas. Feliz quem crê, sabe, vê e caminha firme. A fé então é profunda, inabalável, e habilita-o a superar os maiores obstáculos. Foi neste sentido que se disse que a fé transporta montanhas, pois, como tais, podem ser consideradas as dificuldades que os inovadores encontram no seu caminho, ou seja, as paixões, a ignorância, os preconceitos e o interesse material.
Geralmente se considera a fé como mera crença em certos dogmas religiosos, aceitos sem exame. Mas a verdadeira fé está na convicção que nos anima e nos arrebata para os ideais elevados. Há a fé em si próprio, em uma obra material qualquer, a fé política, a fé na pátria. Para o artista, para o pensador, a fé é o sentimento do ideal, é a visão do sublime fanal aceso pela mão divina nos alcantis eternos, a fim de guiar a Humanidade ao Bem e à Verdade.
É cega a fé religiosa que anula a razão e se submete ao juízo dos outros, que aceita um corpo de doutrina verdadeiro ou falso, e dele se torna totalmente cativa. Na sua Impaciência e nos seus excessos, a fé cega recorre facilmente à perfídia, à subjugação, conduzindo ao fanatismo. Ainda sob este aspecto, é a fé um poderoso incentivo, pois tem ensinado os homens a se humilharem e a sofrerem. Pervertida pelo espírito de domínio, tem sido a causa de muitos crimes, mas, em suas conseqüências funestas, também deixa transparecer suas grandes vantagens.
Ora, se a fé cega pôde produzir tais efeitos, que não realizará a fé esclarecida pela razão, a fé que julga, discerne e compreende? Certos teólogos exortam-nos a desprezar a razão, a renegá-la, a rebatê-la. Deveremos por isso repudiá-la, mesmo quando ela nos mostra o bem e o belo? Esses teólogos alegam os erros em que a razão caiu e parecem, lamentavelmente, esquecer que foi a razão que descobriu esses erros e ajudou-nos a corrigi-los.
A razão é uma faculdade superior, destinada a esclarecer-nos sobre todas as coisas. Como todas as outras faculdades, desenvolve-se e engrandece pelo exercício. A razão humana é um reflexo da Razão eterna. É Deus em nós, disse São Paulo. Desconhecer-lhe o valor e a utilidade é menosprezar a natureza humana, é ultrajar a própria Divindade. Querer substituir a razão pela fé é ignorar que ambas são solidárias e inseparáveis, que se consolidam e vivificam uma à outra. A união de ambas abre ao pensamento um campo mais vasto: harmoniza as nossas faculdades e traz-nos a paz interna.
A fé é mãe dos nobres sentimentos e dos grandes feitos. O homem profundamente firme e convicto é Imperturbável diante do perigo, do mesmo modo que nas tribulações. Superior às lisonjas, às seduções, às ameaças, ao bramir das paixões, ele ouve uma voz ressoar nas profundezas da sua consciência, instigando-o à luta, encorajando-o nos momentos perigosos.
Para produzir tais resultados, necessita a fé repousar na base sólida que lhe oferecem o livre exame e a liberdade de pensamento. Em vez de dogmas e mistérios, cumpre-lhe reconhecer tão-somente princípios decorrentes da observação direta, do estudo das leis naturais. Tal é o caráter da fé espírita.
A filosofia dos Espíritos vem oferecer-nos uma fé racional e, por isso mesmo, robusta, O conhecimento do mundo invisível, a confiança numa lei superior de justiça e progresso imprime a essa fé um duplo caráter de calma e segurança.
Efetivamente, que poderemos temer, quando sabemos que a alma é imortal e quando, após os cuidados e consumições da vida, além da noite sombria em que tudo parece afundar-se, vemos despontar a suave claridade dos dias infindáveis?
Essencializados da idéia de que esta vida não é mais que um instante no conjunto da existência integral, suportaremos, com paciência, os males inevitáveis que ela engendra. A perspectiva dos tempos que se nos abrem dar-nos-á o poder de dominar as mesquinharias presentes e de nos colocarmos acima dos vaivéns da fortuna. Assim, sentir-nos-emos mais livres e mais bem armados para a luta.
O espírita conhece e compreende a causa de seus males; sabe que todo sofrimento é legítimo e aceita-o sem murmurar; sabe que a morte nada aniquila, que os nossos sentimentos perduram na vida de além-túmulo e que todos os que se amaram na Terra tornam a encontrar-se, libertos de todas as misérias, longe desta lutuosa morada; conhece que só há separação para os maus. Dessas crenças resultam-lhe consolações que os indiferentes e os cépticos ignoram. Se, de uma extremidade a outra do mundo, todas as almas comungassem nessa fé poderosa, assistiríamos à maior transformação moral que a História jamais registrou.
Mas essa fé, poucos ainda a possuem, O Espírito de Verdade tem falado à Terra, mas insignificante número o tem ouvido atentamente. Entre os filhos dos homens, não são os poderosos os que o escutam, e, sim, os humildes, os pequenos, os deserdados, todos os que têm sede de esperança. Os grandes e os afortunados têm rejeitado os seus ensinos, como há dezenove séculos repeliram o próprio Cristo. Os membros do clero e as associações sábias coligaram-se contra esse “desmancha-prazeres”, que vinha comprometer os interesses, o repouso e derruir-lhes as afirmações. Poucos homens têm a coragem de se desdizerem e de confessarem que se enganaram. O orgulho escraviza-os totalmente! Preferem combater toda a vida esta verdade ameaçadora que vai arrasar suas obras efêmeras. Outros, muito secretamente, reconhecem a beleza, a magnitude desta doutrina, mas se atemorizam ante suas exigências morais. Agarrados aos prazeres, almejando viver a seu gosto, Indiferentes à existência futura, afastam de seus pensamentos tudo quanto poderia induzi-los a repudiar hábitos que, embora reconheçam como perniciosos, não deixam de ser afagados. Que amargas decepções irão colher por causa dessas loucas evasivas!
A nossa sociedade, absorvida completamente pelas especulações, pouco se preocupa com o ensino moral. Inúmeras opiniões contraditórias chocam-se; no meio desse confuso turbilhão da vida, o homem poucas vezes se detém para refletir.
Mas todo ânimo sincero, que procura a fé e a verdade, há de encontrá-la na revelação nova. Um influxo celeste estender-se-á sobre ele a fim de guiá-lo para esse sol nascente, que um dia Iluminará a Humanidade Inteira. (Leon Denis, Depois da Morte, Quinta Parte, cap. 44.)

Ter Fé




A árvore da fé viva não cresce no coração, miraculosamente.
 
Qual acontece na vida comum, o Criador dá tudo, mas não prescinde do esforço da criatura.
 
Qualquer planta útil reclama especial atenção no desenvolvimento.
 
Indispensável cogitar-se do trabalho de proteção, auxílio e defesa.
 
Estacadas, adubos, vigilância, todos os fatores de preservação devem ser postos em movimento, a fim de que o vegetal precioso atinja os fins a que se destina.
 
A conquista da crença edificante não é serviço de menor esforço.
 
A maioria das pessoas admite que a fé constitua milagrosa auréola doada a alguns espíritos privilegiados pelo favor divino.
 
Isso, contudo, é um equívoco de lamentáveis consequências.
 
A sublime virtude é construção do mundo interior, em cujo desdobramento cada aprendiz funciona como orientador, engenheiro e operário de si mesmo.
 
Não se faz possível a realização, quando excessivas ansiedades terrestres, de parceria com enganos e ambições inferiores, torturam o campo íntimo, à maneira de vermes e malfeitores, atacando a obra.
 
A lição do Evangelho é semente viva.
 
O coração humano é receptivo, tanto quanto a terra.
 
É imprescindível tratar a planta divina com desvelada ternura e instinto enérgico de defesa.
 
Há muitos perigos sutis contra ela, quais sejam os tóxicos dos maus livros, as opiniões ociosas, as discussões excitantes, o hábito de analisar os outros antes do autoexame.
 
Ninguém pode, pois, em sã consciência, transferir, de modo integral, a vibração da fé ao espírito alheio, porque, realmente, isso é tarefa que compete a cada um.
 
Emmanuel
In: 'Vinha de Luz' - Francisco Cândido Xavier

Fé Raciocinada


 “Fé inabalável só o é a que pode en-
carar frente a frente a razão, em  to-
das  as  épocas da Humanidade.” (1)
    Em torno da fé existem inúmeras afirmativas negando-lhe o caráter racional. Segundo alguns teólogos, raciocina-se sobre a crença, mas não sobre a fé. A fé, segundo eles, é uma virtude, um dom que transcende a própria razão.
    Por colocarem-na como virtude ou dom transcendental, pertencente exclusivamente à área do sentimento, é que muitas pessoas confundem emoção com fé. Por isso, é comum pessoas dizerem  ter sentido uma fé imensa, capaz de levá-las a grandes realizações, no momento em que ouviam o relato de passagens do Evangelho, ou de ações levadas a efeito por benfeitores da Humanidade, ou até mesmo em decorrência da simples leitura de uma página edificante. A emoção, a vibração espiritual que os atos nobres suscitam nas almas já portadoras de alguma sensibilidade não pode ser confundida com fé. O estado emocional é transitório, enquanto a fé é permanente. A emoção, se analisada e orientada pela inteligência, pode ser auxiliar valiosa para levar a criatura a modificar-se para melhor. Entretanto, se não for esclarecida pela razão pode conduzir ao fanatismo, à chamada fé cega, que é a negação da própria fé.
    O mundo está cheio de exemplos tristes dos frutos do fanatismo religioso. Em nome da fé, quantas perseguições, quantas mortes e até guerras? Ainda nos dias atuais, principalmente na semana santa, existem pessoas que vertem seu próprio sangue, ferindo seus corpos, ou se entregam a privações terríveis no intuito de mostrar sua fé em Deus. Se raciocinassem, veriam que Deus, como Pai amoroso, bom e misericordioso, nunca poderia ser homenageado com o derramamento do sangue dos Seus filhos. Essa concepção de um deus sanguinário, combateu-a o Profeta Elias, séculos antes de Jesus, quando enfrentou os sacerdotes adoradores do deus Baal. (I Reis, 18: 22 a 40).
    Aprende-se no Espiritismo que, na sua caminhada evolutiva, o Espírito vai conhecendo as leis de Deus, vai percebendo-lhes a perfeição e, quanto mais as conhece, mais se identifica com elas, mais confia na justiça e no amor do Criador, mais se conscientiza da Sua perfeição, mais tem fé. Essa a fé que nasce do entendimento. Inabalável, indestrutível.
    Emmanuel ensina: “Ter fé é guardar no coração a luminosa certeza em Deus, certeza que ultrapassou o âmbito da crença religiosa, fazendo o coração repousar numa energia constante de realização divina da personalidade. Conseguir a fé é alcançar a possibilidade de não mais dizer eu creio, mas afirmar eu sei, com todos os valores da razão, tocados pela luz do sentimento.” (2).
    A fé que o Espiritismo preconiza não é uma fé contemplativa, capaz de levar uma pessoa à imobilidade, em situações de êxtase, em que fica aguardando providências de Deus em seu favor. Ao contrário, é uma fé dinâmica, edificada vagarosa e conscientemente pelo Espírito, à medida que evolui, conforme ensina Emmanuel: “A árvore da fé viva não cresce no coração miraculosamente. A conquista da crença edificante não é serviço de menor esforço. A maioria das pessoas admite que a fé constitua milagrosa auréola doada a alguns espíritos privilegiados pelo favor divino.” (3)
    A fé espírita não é aquela que se fixa em objetos materiais como cruzes, escapulários, bentinhos, talismãs, amuletos, medalhas, etc. O espírita tem fé em Deus, em Jesus, nos bons Espíritos, entidades dotadas de sentimento e de inteligência, seres capazes de movimentar recursos em seu favor. Essa fé é muito diferente da crença infantil num pretenso poder mágico de objetos materiais, que não poderiam jamais movimentar, com inteligência e sentimento, recursos a benefício de alguém.
    Entretanto, é lícito se indague sobre a origem da fé raciocinada. Teria ela nascido com o Espiritismo? Não, a fé raciocinada nos vem de Jesus, dos ensinamentos do seu Evangelho. O Mestre mudou completamente o próprio conceito de religião, introduzindo no campo até então puramente emocional da fé, o componente razão, entendimento. Ninguém, até Jesus, fez tantos apelos ao raciocínio no âmbito religioso. Kardec, conhecedor profundo da atuação de Jesus, o conhecia, não como um místico, mas como um educador de almas que, ao tempo em que tocava o sentimento daqueles que o ouviam, sabia também levá-los ao entendimento das lições.. Por isso, tem a Doutrina Espírita essa característica de racionalidade. E não podia ser de outra forma, de vez que ao Espiritismo coube o papel de reviver o Cristianismo na sua pureza, simplicidade e pujança originais.
    Jesus nunca explorou a emoção de ninguém. Sua fala, mansa e humilde, precisa e firme, era dirigida ao sentimento e à inteligência. Suas lições foram sempre pautadas no diálogo, através do qual propunha o exame racional daquilo que ensinava.
    Censurado por haver curado uma mulher paralítica num sábado, bem poderia deixar que a própria cura falasse por ele, mas não perdeu a oportunidade de, através de uma pergunta, fazer pensar aqueles que o ouviam: “(...) no sábado não desprende da manjedoura cada um de vós o seu boi, ou o jumento, e não o leva a beber? E não convinha soltar desta prisão, no dia de sábado, esta filha de A-braão, a qual há dezoito anos Satanás a tinha presa?” (Lc, 13: 15 e 16).
    De outra feita, ele próprio perguntou aos doutores da lei, antes de curar um homem: “É lícito curar no sábado?” (Lc, 14: 3). Como não respondessem, Jesus curou o hidrópico e o despediu. Depois, ele volta a inquiri-los, a fim de conscientizá-los de que acima da letra morta há uma interpretação racional, inteligente: “Qual de vós o que, caindo-lhe num poço, em dia de sábado, o jumento ou o boi, o não tire logo?” (Lc, 14: 5).
    “E orando, não useis de vãs repetições...” (Mt, 6: 7). Quer o Mestre dizer que devemos orar com plena consciência daquilo que falamos, que a nossa oração não seja uma repetição emocional de uma fórmula decorada, como se fosse algo recitado ou declamado. Ao contrário, que seja uma mensagem conscientemente elaborada, com um conteúdo de comunicação dirigida ao Alto, e que não seja uma simples ladainha.
    Jesus, ao conversar com a samaritana, à beira do poço de Jacó, demonstra que não necessitava de inquirir alguém para informar-se de algo. Ali deixa claro para ela que conhecia-lhe o passado como a palma de sua mão. (Jo, 4: 17). Entretanto, freqüentemente fazia perguntas para suscitar dúvida no seu interlocutor, a fim de fazê-lo pensar, raciocinar e não receber passivamente um ensinamento: “Qual é mais fácil? Dizer: Os teus pecados te são perdoados; ou dizer: Levanta-te e anda?” (Lc, 5: 23).
    Ao invés de fazer um discurso eloqüente e emocionado sobre a Providência Divina, o Mestre busca, através de perguntas, levar seus ouvintes a pensarem, a raciocinarem sobre Deus. Depois de lhes ter falado sobre os lírios do campo, dizendo que Deus os veste, e compara sua vestimenta ao luxo do rei Salomão: “Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pouca fé?” (Mt, 6: 30).
    “E qual de vós é o homem que, pedindo-lhe pão o seu filho, lhe dará uma pedra? E, pedindo-lhe peixe, lhe dará uma serpente? Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhos pedirem?” (Mt, 7: 9 a 11). Também por essa passagem pode-se ver que Jesus não buscava levar ninguém a uma adoração emotiva, a uma fé cega. Ele poderia ter dito, por exemplo que se deve ter fé em Deus, criador de tudo o que existe, que é bom, amoroso, misericordioso, providente etc. Mas não, só isso não bastava. Se ficasse só nessas afirmações, teria suscitado uma fé passiva. Ele queria fazer as criaturas entenderem, através de uma comparação, que o Todo Poderoso deveria ser, necessariamente, melhor que um pai terreno e, portanto, capaz de dar maiores bens aos Seus filhos.
    Os apelos que Jesus, nas suas lições, fazia não só ao sentimento, mas também à inteligência, foi objeto de estudo até mesmo fora do ambiente religioso, por um médico psiquiatra, Augusto Jorge Cury, quando diz: “... ele não anulava arte de pensar, ao contrário, era um mestre intrigante nessa arte. Cristo não discorria sobre uma fé sem inteligência. Para ele, primeiro se deveria exercer a capacidade de pensar e refletir antes de crer, depois vinha o crer sem duvidar. Se estudarmos os quatro evangelhos e investigarmos a maneira como Cristo regia e expressava seus pensamentos, constataremos que pen-sar com liberdade e consciência era uma obra-prima para ele.” (4)
    O trecho do Novo Testamento que mais evidencia o ambiente pedagógico, de diálogo, de liberdade de análise, na busca de esclarecimentos, que Jesus propiciava a todos que ouviam-lhe as lições é, certamente, o assim chamado “A Transfiguração”. Registra Mateus, no capítulo 17, que Jesus subiu a um alto monte, acompanhado de Pedro, Tiago e João. O Mestre orou e se transfigurou, cobrindo-se de luz, ao tempo em que apareceram – seguramente materializados, pois que os três discípulos os viram – Moisés e Elias, que conversaram com ele. Passado o momento sublime, ao regressarem, o Mestre ordena aos discípulos que não contem nada do que acontecera até ele ressuscitasse. É de se imaginar o contentamento e a emoção que devem ter sentido aqueles discípulos ao contemplarem Jesus coberto de luz, Moisés, o pai dos profetas, e o grande profeta Elias.  Entretanto, eles não se detiveram em atitude de contemplação mística, de deslumbramento. Pelo contrário, o raciocínio funcionou imediatamente, na busca de resposta para algo que lhes pareceu estranho: “E os discípulos o interrogaram, dizendo: Por que dizem então os escribas que é mister que Elias venha primeiro?” (Mt, 17: 10).  Por que a pergunta? Ora, havia sido predito pelos profetas – e os escribas sempre o repetiam – que o Mestre seria precedido por Elias, que voltaria para preparar-lhe o caminho. Os discípulos, vendo Elias desencarnado, deduziram que algo estava errado: ou as profecias não espelhavam a verdade, ou aquele que se apresentara e conversara com Jesus não era Elias, ou Jesus não era o Messias! Jesus, com a tranqüilidade daqueles que detêm a verdade, respondendo, disse-lhes: “Mas digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe o que quiseram. Assim farão eles também padecer o Filho do homem.” (Mt, 17: 12). E, em seguida, conclui o Evangelista: “Então entenderam os discípulos que lhes falara de João Batista.” (Mt, 17: 13). Tudo estava certo. A profecia já se havia cumprido.
    Diante do que se acabou de ver, conclui-se que Jesus foi um pedagogo e não um místico. Sabia atrair seus ouvintes com as doces consolações da fé, mas não alimentava atitudes de deslumbramento contemplativo, face aos apelos ao raciocínio com que mesclava suas sublimes lições. Encaminhava-os ao entendimento lógico, racional dos fatos! Jesus, como Mestre admirável que foi, soube criar um clima de diálogo aberto. Foi essa liberdade que levou os discípulos a buscarem imediatamente esclarecimento sobre a aparição de Elias, embora a pergunta formulada por eles contivesse embutido um grave questionamento, qual seja o da própria condição de Messias do seu Mestre. Jesus não se sente agastado e, com a segurança daqueles que estão com a Verdade, os esclarece. Assim, vê-se claramente que Jesus não impunha suas idéias, não violentava consciências, nem exigia fé cega, sem exame. Não. Sua mensagem sempre foi dirigida ao intelecto e ao sentimento, bases legítimas da fé raciocinada, que o Espiritismo veio reviver.
1. O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. 9, item 7
2. O Consolador, perg. 354
3. Caminho, Verdade e Vida, cap. 40
4. Análise da Inteligência de Cristo, pág. 18
5. Bíblia Sagrada, trad. João Ferreira d'Almeida (todas as citações)
 
José Passini
Juiz de Fora  MG

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

O equilíbrio da saúde


É comum, em relação à questão da saúde, vivermos, quase sempre, procurando combater a doença, haja vista o número de remédios, farmácias, hospitais equipados com alta tecnologia para diagnóstico e tratamento, planos de saúde, etc.
Por esses meios buscamos  a libertação de nossos males, no entanto, continuamos doentes e mais ansiosos em nos vermos livres das doenças.
Novas doenças aparecem a cada dia, doenças milenares ressurgem com toda a força. Tudo isso acontece num momento em que a Medicina conta com recursos avançadíssimos de diagnóstico e tratamento. Por que isso acontece?
Em uma abordagem profunda, querer se livrar da doença não significa a mesma coisa que buscar a saúde.
Desenvolver a saúde requer um movimento do indivíduo em direção a ela. Não é possível nos livrarmos da doença de fora para dentro. 
Muito menos, através de uma atitude de ansiedade e inquietação no sentido de arrancá-la de nós, por meio de recursos externos.
Arrancá-la só nos trará um alívio temporário para que, posteriormente, possamos agir de outra maneira.
A causa das doenças, tanto as mentais quanto as físicas, estão no Espírito doente que ainda somos, comprometidos com a ignorância e a ilusão, a rebeldia e a violência, o egoísmo e a negação do dever.
Todos  esses fatores são  geradores de sofrimentos, de enfermidades e dores.
O ser, então, sem a ética necessária ou o sentimento de superior eleição, atira-se nos cipoais dos conflitos que geram a desarmonia das defesas orgânicas.
Essas cedem à invasão de micróbios e vírus que lhes destroem a imunidade, instalando-se, insaciáveis, devoradores.
Certamente, as terapias convencionais ajudam na recuperação da saúde, na sua relativa manutenção.
Todavia, somente os fatores internos que respondem pelo comportamento emocional e social podem criar as condições permanentes de bem-estar, erradicando as causas penosas  e promovendo o equilíbrio estrutural do ser.
Encobrir uma ferida não impede que ela permaneça decompondo a área, na qual se encontra instalada.
Jesus sintetizou no amor a força poderosa para a anulação das causas infelizes do sofrimento e para a sua compensação pelo bem.
Na fé, a canalização de todas as possibilidades  psíquicas alterando a ação das forças habituais.
A fé tudo pode, pois aciona inexplorados mecanismos íntimos do homem, geradores de forças não utilizadas, modificando por completo a paisagem interna e, posteriormente, a paisagem externa do ser.
Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita, através da observância das lições do Evangelho e das diretrizes propostas pelos Espíritos Superiores, aludindo a Jesus, apresentou a caridade como sendo a via real para a salvação, a aquisição da saúde integral.

Pense nisso
Somente uma ação  decisiva, firme,  visando a saúde espiritual,  nos libertará  definitivamente das doenças que, em si mesmas, são caminhos para a conquista da saúde do Espírito.
É na transformação moral do indivíduo para melhor e na ação da caridade que a cura se processa e o sofrimento se dilui, cedendo  lugar à paz e ao  equilíbrio psicofísico.

Redação do Momento Espírita com base em texto explicativo do livro Saúde espiritual, de Alírio  de Cerqueira Filho, ed. Ebm e do cap. VIII do livro Plenitude, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco, ed. Leal.

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ENTRE EXPERIÊNCIAS ESPIRITUAIS E PSICÓTICAS NÃO PATOLÓGICAS E TRANSTORNOS MENTAIS


Este artigo científico também é interessante, pois faz a distinção entre a mediunidade enquanto algo natural que não se traduz em efeitos patológicos e o transtorno mental.

Diagnóstico diferencial entre experiências espirituais e psicóticas não patológicas e transtornos mentais: uma contribuição de estudos latino-americanos para o CID-11
Moreira-Almeida A, Cardeña E
Rev. Bras. Psiquiatr. 2011, 33 (suppl.1): s21-s28
Resumo
Objetivo: Contribuir para a validade da Classificação Internacional de Doenças-11ª edição no diagnóstico diferencial entre experiências espirituais/ anômalas e transtornos mentais revisando artigos de pesquisa sobre o tema em psiquiatria e psicologia envolvendo populações latino-americanas e/ou produzidos por pesquisadores latino-americanos.
Método: Pesquisa em bases de dados (PubMed, PsycINFO, Scopus, and SciELO) por meio de palavras chave (possessão, transe, experiência religiosa, experiência espiritual, Latin*, Brazil) em busca de artigos com dados psicológicos e psiquiátricos originais em experiências espirituais. Também foram analisadas as referências dos artigos selecionados e autores na área foram contactados em busca de dados e referências adicionais.
Resultados: Há evidências consistentes que experiências psicóticas e anômalas são frequentes na população geral e que em sua maioria não estão relacionadas a transtornos psicóticos. Frequentemente, experiências espirituais envolvem experiências dissociativas e psicóticas de caráter não patológico. Embora as experiências espirituais não estejam habitualmente relacionadas a transtornos mentais, elas podem causar sofrimento transitório e são frequentemente relatadas por pacientes psicóticos.
Conclusão: Propomos algumas características que sugerem a natureza não patológica de uma dada experiência espiritual: ausência de sofrimento, de prejuízo funcional ou ocupacional, compatibilidade com o contexto cultural do paciente, aceitação da experiência por outros, ausência de comorbidades psiquiátricas, controle sobre a experiência e crescimento pessoal ao longo do tempo.

NEM SEMPRE É ALUCINAÇÃO


(matéria publicada na Folha Espírita em junho de 2004)
A Folha Espírita transcreve entrevista da Dra Marlene Nobre (Presidente da AME-Brasil e AME-Internacional) à revista Psychic World e realiza entrevista com o Dr. Sérgio Felipe Oliveira (AME-SP), psiquiatra
Psychic World – Dra. Marlene, gostaria de colocar uma questão crucial para você, sobre o que é comumente chamado de esquizofrenia. Hoje, quando alguém ouve vozes é tido como esquizofrênico, recebe fortes sedativos e, freqüentemente, é internado em hospitais de unidades psiquiátricas, registrado como mentalmente instável. Uma definição praticamente irreversível e para o resto de sua vida. De fato, freqüentemente, não o é de verdade e não recebe tratamento... mas recebe, por períodos indefinidos, sedativos que fazem estragos. Acho isso uma situação intolerável... O que você me diz sobre isso?
Marlene Nobre – Bem, o que ocorre, infelizmente, no curso médico, na prática médica, é algo que realmente não se compreende muito bem. Por quê? Porque a Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que saúde é o estado de completo bem-estar do ser humano integral: biológico, social, ecológico e espiritual. Então, saúde é definida pela OMS como sendo o equilíbrio entre fenômenos orgânicos, psíquicos, sociais e espirituais. No entanto, na prática, os médicos não consideram todos esses fenômenos, mas tão somente os orgânicos ou biológicos. Podemos perguntar, em qualquer país, o que ensinam as escolas de medicina e constataremos que os médicos não são alertados para os problemas psicológicos e espirituais do paciente, eles restringem-se às reações orgânicas, como se o ser humano fosse reduzido tão somente ao corpo físico. Embora o Código Internacional de Doenças (CID), que é conhecido no mundo todo, no número 10, questão F 44.3, contemple a existência dos estados de transe, fazendo a distinção entre os normais, os que acontecem por incorporação ou atuação dos espíritos, dos que são patológicos, provocados por doença, a maioria dos médicos não leva isso em consideração. No Tratado de Psiquiatria de Kaplan e Sadock, um dos mais consultados pelos psiquiatras, no capítulo dedicado ao estudo das personalidades, há também a distinção entre as personalidades que recebem a atuação de espíritos e as dos outros que são doentes. A Psiquiatria já faz, portanto, a distinção entre o estado de transe normal e o dos psicóticos que seriam anormais ou doentios. Isso, portanto, precisaria ser mais discutido com os colegas, principalmente, com aqueles que não consideram a possibilidade de comunicação dos espíritos com os encarnados. Por quê? Porque já há a contemplação nos próprios compêndios da Medicina a respeito da possibilidade de comunicação dos espíritos. Outro aspecto também é a obra de Carl Gustav Jung, que estudou o caso de uma médium que recebia espíritos por incorporação nas sessões espíritas. Desse modo, constatamos que já existe uma abertura para o estudo do espírito dentro do currículo da Psicologia e da própria Medicina. O que ocorre é que a preparação dos médicos ainda é extremamente reducionista e, com essa visão estreita, são levados a considerar apenas e tão somente os fenômenos orgânicos. Quanto ao exemplo referido por você, nós realmente nos constrangemos ou ficamos tristes com a conduta dos colegas que, habitualmente, rotulam todas as pessoas que dizem ouvir vozes como psicóticas e tratam-nas com medicamentos pesados pelo resto de suas vidas. Ficamos penalizados com uma situação como essa, porque existe uma porcentagem de pessoas que são consideradas psicóticas por ouvirem espíritos e que, na realidade, são médiuns. Cremos que, na História da Moléstia Atual do paciente, deveriam constar também, além dos sintomas orgânicos, os psicológicos e espirituais, a fim de que pudéssemos fazer a distinção, evitando, assim, que os médiuns sejam taxados de psicóticos para o resto de suas vidas. Muitos deles poderiam encontrar um caminho mais fácil para a cura, a partir do momento em que é diagnosticado um caso de obsessão ou de comunicação espirítica. Acredito que só quando tivermos uma Medicina que leva em consideração o ser integral, espírito/corpo, é que teremos possibilidade de abertura para entender quando se trata de um ou de outro caso.
PW – Para a quantidade de pessoas que começam a ouvir vozes, qual é o seu conselho?
Marlene – É difícil dizer, quando você está em outro país, onde não se conhece muito bem o procedimento, tanto do lado médico quanto espiritual. Mas é preciso ir, pouco a pouco, oferecendo material de estudo, livros, para que a população se informe também a respeito da obsessão, da possibilidade de se ouvir espíritos. Esse é um fenômeno corriqueiro, banal, comum a muitas pessoas. Então, à medida que a divulgação vai sendo feita, através de livros ou de palestras e cursos, há a possibilidade de se informar mais à população. E as famílias passam a conhecer mais o problema. Não é nada fácil, porque em um país como este que respeitamos tanto, de tantas tradições, de tanto progresso, o Espiritismo é praticamente ignorado, mas já há por parte de alguns médicos e psicólogos um entendimento do que seja a mediunidade, no caso mais específico, a obsessão. Talvez, então, fosse interessante que houvesse troca de impressões e de idéias entre o movimento espírita e os profissionais que já aceitam a mediunidade, de modo a oferecer aos obsedados os recursos terapêuticos espirituais indicados para esses casos.
Folha Espírita – Como distinguir alucinação por transtorno mental da que ocorre no processo obsessivo?
Sérgio Felipe de Oliveira – A obsessão espiritual oficialmente é conhecida em Medicina como possessão e estado de transe. O Código Internacional de Doenças – CID 10, item F 44.3 – qualifica estado de transe e possessão como a perda transitória da identidade com manutenção de consciência do meio ambiente. Essa situação é considerada doença quando a pessoa não tem controle. Os casos em que a pessoa entra em transe durante os cultos religiosos e sessões mediúnicas não são considerados doença. A alucinação é um sintoma que pode surgir tanto no transtorno mental anímico, a partir de neuroses graves que marcam o subconsciente, quanto na interferência de fatores externos. Esses fatores externos podem ser químicos e orgânicos, como na ingestão de drogas ou nas desordens orgânicas – febre muito alta, uremia, desordens cerebrais, etc. – ou espirituais. A interferência de uma personalidade intrusa, a obsessão espiritual, pode desajustar a percepção da realidade levando a alucinações. A pessoa pode ter alucinações e ainda assim sustentar a crítica da razão – ela sabe que está alucinando ou pode perder a crítica da razão julgando ser verdadeira aquela falsa realidade. Um dia, um paciente mergulhou no rio Tietê diante da alucinação de que estaria numa bela praia. Nesse caso, temos o transtorno dissociativo psicótico ou o que popularmente se chama de loucura. O médico deve inicialmente fazer o diagnóstico da condição orgânica para depois estabelecer diagnóstico diferencial entre o transtorno dissociativo por estado de transe ou possessão, de um caso de transtorno dissociativo psicótico. O manual de estatística de desordens mentais da Associação Americana de Psiquiatria – DSM IV – alerta que o clínico deve tomar cuidado para diagnosticar erradamente como alucinação ou psicose casos de pessoas de determinadas comunidades religiosas que dizem ver ou ouvir espíritos de pessoas mortas porque isso pode não significar uma alucinação ou psicose. A distinção entre alucinação, clarividência ou clariaudiência é uma situação bastante complexa.
FE – Como distinguir esquizofrenia da obsessão?
Sérgio Felipe de Oliveira – Na verdade, temos de discriminar no diagnóstico qual o papel da obsessão espiritual na doença que a pessoa está vivendo, já que todo transtorno psicótico como a esquizofrenia possui o componente obsessivo-espiritual.
FE – É possível saber em que proporção o processo obsessivo permeia os transtornos psicóticos, como, por exemplo, no caso das esquizofrenias?
Sérgio Felipe de Oliveira – Nesse caso, a melhor forma é a prova terapêutica. Uma vez acertado o tratamento medicamentoso e psicoterápico, a associação do tratamento espiritual, sobretudo a magnetização e a desobsessão, nos dará a proporção do envolvimento espiritual. Casos em que há uma predominância do fator obsessivo-espiritual, a melhora com a magnetização e desobsessão chega a ser espetacular, trazendo novos horizontes para a Psiquiatria. Nos casos em que há a predominância anímica ou orgânica, a melhora está mais associada à transformação da pessoa ou seu estado orgânico de forma bem caracterizada. Julgamos importante que o médico e o psicólogo que acompanham casos nessa profundidade passem pelo processo de magnetização e desobsessão a fim de se desvencilhar de possíveis envolvimentos com as energias e os obsessores que acompanham o caso.