O homem tem receio natural de encontrar-se consigo mesmo, conhecer-se, mergulhar em seu interior. A psicologia profunda conceitua tal medo do homem como a sua SOMBRA, pois que ela, SOMBRA, é tudo quanto se acha submerso, escondido, sufocado em muitas ocasiões, esquecido ou silenciado pelo nosso consciente, tudo quanto ainda relutamos por retirar de nós. Tudo quanto ainda não se viveu, não se realizou, segundo a nossa vontade, embora houvesse condições para isso, faz parte da nossa SOMBRA. Em resumo é o lado obscuro da personalidade que necessita ser desalojado para dar liberdade ao homem. Obscuro porque não está situado no lado luminoso da personalidade, e sim numa posição mais ou menos periférica, exterior, até perder-se na escuridão, ou seja, no inconsciente, sem contudo deixar de agir, de exercer influência sobre nós. No entanto, tudo aquilo que sempre mais se subtrai ao controle da consciência crítica, lúcida e responsável é também o lugar onde mais se aninha tudo que é ignóbil, degenerado ou, numa palavra, o mal. É exatamente por isso que a SOMBRA pode representar o papel negativo da personalidade. Para se colocar diante da própria SOMBRA é preciso coragem. Podem vir à tona coisas desagradáveis, capaz de nos colocar em crise. É por isso que todos, de um modo geral, têm medo da SOMBRA. O próprio Platão, no Fédon já falava do temor da própria sombra. Temer a própria sombra é dizer-se uma pessoa medrosa e isto já era dito em 1532 na Alemanha. Agora, o medo da própria SOMBRA conduz à projeção, e, por projeção vamos entender a transferência do próprio inconsciente para uma ou outras pessoas, coisas ou situações, o que geralmente se faz sem escrúpulo algum. É assim como uma transferência de responsabilidade, uma justificativa quando se é pego em erro, em algum tipo de falha moral, principalmente. Importante perceber que a busca de si mesmo pertence unicamente à própria pessoa, é da sua exclusividade a iniciativa. Só ela pode acessar-se com êxito, não obstante o psicoterapeuta possa chegar perto da intimidade profunda do indivíduo. Quando Jesus disse a Zaqueu que importava está na casa dele, naquele momento, fez com que Zaqueu projetasse a sua SOMBRA, se revelasse. Foi aí que a salvação entrou naquela casa. Encontrar-se a si mesmo significa, em cada caso, conhecer e reconhecer a própria SOMBRA, significa ver-nos como somos, sem máscaras. Em geral são nos sonhos que se revelam as SOMBRAS. Preciso é que tudo quanto for falso venha a lume, e tanto quanto possível eliminado a fim de que a pessoa apareça tal qual é, na realidade. Por que o centurião recusou a ida de Jesus à sua casa? Pela SOMBRA que ele, centurião, carregava. Afinal era um centurião romano a serviço de César, o todo poderoso. Além do mais estava acostumado a ser obedecido, sempre fora alvo de honrarias e de homenagens. Jesus percebeu tudo isso e o centurião reconheceu a sua condição de inferioridade diante do mestre, mergulhou em si. Com relação a Jesus, hoje como ontem dissemos com muita tranqüilidade “Jesus disse”, “assim Ele falou”, ELE o chamou”. No entanto, não penetramos profundamente na significação de Suas palavras, elas que se infiltravam e se infiltram na profundeza do ser atingindo o nosso cerne. Em verdade é preciso, na psicoterapia, fazer algo semelhante apesar de não estarmos na condição de fazê-lo, pelo fato de sermos tão somente criaturas humanas, fracas, falhas. ADÉSIO ALVES MACHADO |
